Acabei de completar 50 anos. A minha mulher ofereceu-me um   voucher de uma semana num dos melhores ginásios. Estou em excelente forma mas   achei boa idéia diminuir a minha "barriguinha". Fiz a marcação   dessa semana no ginásio. A personal trainer que me vai seguir chama-se   Catarina, tem 26 anos, é monitora de aeróbica e modelo. Recomendaram-me que   escrevesse um diário para documentar o meu progresso, que transcrevo a   seguir.
          Segunda-feira
    Com muita   dificuldade levantei-me às 6 da manhã. O esforço valeu a pena. A monitora   parece uma deusa grega: loira, olhos azuis, grande sorriso, lábios carnudos e   corpo escultural. Primeiro mostrou-me todos os aparelhos de ginástica.   Comecei pela bicicleta. Ao fim de 5 minutos mediu as minhas pulsações e ficou   alarmada porque estavam muito aceleradas. Mas não era da bicicleta: era por   causa dela, por estar vestida com uma malha de lycra justíssima que lhe   moldava as formas todas. Gostei do exercício. Ela consegue dar-me imensa   motivação. Começo a sentir uma dor constante na barriga de tanto a encolher.
          Terça-feira
    Tomei o   pequeno almoço e fui para o ginásio. A monitora estava melhor que nunca.   Comecei por levantar uma barra de metal. Depois ela atreveu-se a pôr pesos!!!
   Tinha as pernas fracas mas consegui completar UM QUILÓMETRO na passadeira. O   sorriso arrebatador que a monitora me deu no fim da manhã convenceu-me de que   todo este exercício vale a pena... É uma vida nova para mim.
          Quarta-feira
    A única forma de conseguir escovar os dentes foi segurar na escova com os   cotovelos apoiados no lavatório e mexer a cabeça de um lado para o outro.   Conduzir também não foi fácil: estender os braços para meter as mudanças foi   um esforço digno de Hércules. Dói-me o peito. As plantas dos pés doem de cada   vez que carrego nos pedais. Fisicamente diminuído, estacionei o carro no   lugar reservado para deficientes, até porque só consigo andar a coxear. A   monitora estava com a voz um pouco aguda. Quando grita incomoda-me muito.   Quando me pôs um arnês para fazer escalada todo o corpo me doeu. Para que é   que alguém inventa um aparelho para fazer escalada quando isso ficou obsoleto   desde a invenção dos elevadores? A monitora disse-me que este exercício me ia   ajudar a ficar em forma, ou a gozar a vida...
          Quinta-feira
    A   monitora estava à minha espera com os seus dentes de vampiro horríveis.   Cheguei meia-hora atrasado: foi o tempo que demorei para conseguir calçar os   sapatos. A desgraçada pôs-me a trabalhar com os pesos. Quando se distraíu,   fui-me refugiar na casa de banho. A gaja mandou um outro monitor ir   buscar-me.
   Como castigo pôs-me na máquina de remar... Estou todo rebentado.
          Sexta-feira
    Odeio   essa desgraçada. Estúpida, magra, anémica, chata e feminista sem cérebro! Se   houvesse uma parte do meu corpo que eu pudesse mexer sem sentir uma dor   excruciante, partia ao meio essa sacana. Quis que eu trabalhasse os meus   trícipetes... EU NEM SABIA O QUE ERA ESSA COISA DOS TRÍCIPETES!!! E se não   bastasse colocar-me pesos nos braços, pôs-me aquelas tretas das barras...   Desmaiei na bicicleta. Acordei numa maca. Uma nutricionista, uma idiota com   cara de estúpida, deu-me uma seca sobre alimentação saudável.
          Sábado
    A filha da mãe deixou-me uma mensagem no telemóvel com a sua vozinha de   lésbica assumida a perguntar por que é que eu não apareci. Só de ouvir aquela   vozinha fiquei com ganas de partir o telemóvel, mas não tive forças para o   levantar. Carregar nas teclas do comando da televisão para fazer zapping está   a ser um esforço tremendo...
          Domingo
   Não me   consigo levantar.
   Pedi a um amigo meu para agradecer a Deus por mim na missa por ter   sobrevivido a esta semana que felizmente já acabou. Rezei para que no ano que   vem a desgraçada da minha mulher me dê qualquer coisa um pouco mais   divertida, como um tratamento dentário, um cateterismo ou até mesmo um exame   à próstata.
           
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